16/03/2015

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Líder do Governo: Dilma deve repactuar o governo

O líder do Governo na Câmara, José Guimarães, diz que o governo não deve ficar apavorado com os protestos de domingo (15), que fazem parte da democracia participativa, mas deve responder com “pressa, pressa, pressa”. As respostas que ele recomenda são o pacote anti-corrupção, a reforma política, a reformatação do ajuste fiscal e uma completa repactuação do governo, que pode até passar por mudanças no ministério. 

Leia a íntegra da entrevista publicada pelo blog da Tereza Cruvinel:

Tereza Cruvinel – O governo  assustou-se com a dimensão da manifestação de domingo?

José Guimarães – Não devemos subestimar as manifestações nem superestimá-las. Elas refletem uma nova fase da democracia brasileira, que agora entra na etapa da democracia participativa, e isso é salutar. Nós, que lutamos pela democracia e seu aprofundamento, não temos que ficar apavorados. Tivemos a luta contra a ditadura, a luta pelas diretas, a Constituinte, as conquistas sociais que o Lula liderou. Agora, a democracia entra nesta fase participativa e temos que conviver mais naturalmente com isso. Mas precisamos, neste momento, ouvir a voz das ruas e ler corretamente o que ela diz. O foco unificador das manifestações não foram o pedido de impeachment da presidente e o Fora PT, nem as pregações direitistas por intervenção militar. Foi o grito contra a corrupção. Teve de tudo. Eu vi muita faixa em Fortaleza pedindo a volta dos militares e dizendo “abaixo o STF” mas a estas a mídia deu menos destaque. A mídia usou dois pesos e duas medidas para mostrar as manifestações.

Tereza Cruvinel – O senhor fala da cobertura de sexta-feira e da de domingo?

José Guimarães – Sim. Eu não vi a TV Globo fazer cobertura ao vivo, minuto a minuto, das manifestações de sexta-feira. Nem começar a cobertura no início da manhã, estimulando as pessoas a irem para a rua.  Setores da mídia se esforçaram para inflar as manifestações e superdimensionaram os atos de domingo. Cegaram ao absurdo de falar em um milhão de pessoas na Avenida Paulista, acolhendo uma avaliação da PM de São Paulo, contra a avaliação da Folha de São Paulo, insuspeita de governismo, que estimou o comparecimento em 210 mil pessoas. Agora até a PM está sendo instrumentalizada. Em Fortaleza, falaram em 20 mil pessoas numa praça bem próxima da minha casa onde mal cabem cinco mil pessoas,  se estiver lotada. Exageraram nos números e fizeram uma cobertura que buscou dramatizar a situação. Mas não quero discutir números. Foi uma grande manifestação e o governo precisa ouvir a voz das ruas, que bradou principalmente contra a corrupção.

Tereza Cruvinel – E o que fazer?

José Guimarães – Responder com pressa, pressa, pressa. Apresentar imediatamente o pacote anticorrupção e pedir ao Congresso que vote. Se não votar, é outro problema mas o Governo precisa mostrar seu compromisso com o combate a corrupção.

Tereza Cruvinel – O senhor acha que este pacote pode reduzir uma ira contra os casos de corrupção que já aconteceram?

José Guimarães – Os casos já acontecidos foram revelados, julgados ou estão com investigações em curso, como é o caso da Petrobrás. O Judiciário, o Ministério Público, a Polícia Federal e agora a CPI da Câmara estão tratando disso com toda autonomia. Mas é preciso apresentar novas medidas preventivas. Por exemplo, transformar a corrupção em crime hediondo. A população saberá entender uma medida destas.

Tereza Cruvinel – Os ministros Jacques Wagner, Eduardo Cardoso e Miguel Rosseto defenderam, como uma das respostas,  a aprovação imediata da reforma política. O senhor também acha que é importante e é possível?

José Guimarães – O governo deve ser firme nesta iniciativa. Não tem que perder tempo com a proposta de plebiscito porque o Congresso já deixou claro que não aceita. Então, vamos acelerar as negociações para aprovar a reforma possível, começando pelo financiamento de campanhas. Defendemos o fim do financiamento empresarial, que estimula a corrupção. O governo precisa deixar clara sua posição.

Tereza Cruvinel –  Neste momento, o governo não conta com uma base unida para defende-lo.  Como resolver os problemas da base? Com reforma ministerial?

José Guimarães – É preciso agir logo. Intensificar o diálogo com o Congresso, com os presidentes das duas casas e discutir uma agenda com todos os partidos.  Demos início à concertação com o conjunto dos partidos, negociado e aprovando a manutenção de todos os vetos na semana passada. Com os partidos aliados, é preciso repactuar a corresponsabilidade pelo Governo. Um partido não pode ocupar ministérios e dois terços de sua bancada votar contra o governo, como tem acontecido. A reciprocidade é uma regra em todos os governos de coalizão no mundo inteiro. Mas o governo também precisa discutir e decidir em conjunto com eles, que reclamam muito de não serem ouvidos previamente.  Esta mudança de atitude nos dará mais coesão.

Tereza Cruvinel – Este ajuste político pode exigir mudanças no ministério?

José Guimarães – Se for preciso, por que não? Eu diria que a presidente precisa fazer um recomeço do governo, repactuando com os partidos aliados. Aqui entra novamente a mídia. À noite, depois das dificuldades políticas do dia, diz que a base está insatisfeita e o governo não consegue atendê-la. No dia seguinte, se o governo faz algum aceno aos aliados, diz que a Dilma está fazendo concessões ao toma-lá-dá-cá. Certo é que em toda coalizão há compartilhamento do governo com os aliados. Isso não é desvio, é da prática política universal. Precisamos rechaçar a criminalização da política de alianças. Temos que repelir o emparedamento udenista que a mídia tenta nos impor.  Neste momento, a presidente precisa fazer uma repactuação política geral.

Tereza Cruvinel – Mas a repactuação pode esbarrar no ajuste fiscal. Ele também pode ser reformatado?

José Guimarães – O ajuste é fundamental, precisa ser feito, o Levy está certo, nós precisamos fazer o superávit. Mas podemos recalibrar a balança, distribuindo o peso para os dois lados. Podemos, por exemplo, aprovar o imposto sobre grandes fortunas e grandes heranças, aumentar a taxação dos rentistas que vivem da especulação, preservando o empresariado que investe e produz. Tem uma parcela pequena e privilegiada da sociedade que não aceita perder um centavo para garantir o equilíbrio fiscal ou para ser investido em políticas sociais que tornem o país mais justo.

Tereza Cruvinel – Havia muita gente da classe média alta nas manifestações que pode reagir a esta redistribuição do ajuste…

José Guimarães – Interessante que 90% dos manifestantes eram de classe média a alta. Mas para colocar um manifestante no ar, a mídia escolhia um negro, um trabalhador, uma pessoa mais humildade. A classe média tradicional e conservadora, que não vota em nós mesmo, era dominante nas manifestações e não estará contente com nenhuma resposta do governo. Mas vai ter que esperar 2018 para tentar ganhar no voto. Como eu já disse, havia cartazes pelo impeachment mas esta palavra de ordem não foi a que dominou as manifestações. Não houve unidade sobre isso. Então, precisamos enfrentar a situação com atitudes políticas e econômicas.